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Dia do Radioamador Brasileiro

Padre Roberto Landell de Moura
(Porto Alegre, 21 de janeiro de 1861 – Porto Alegre, 30 de junho de 1928)
foi um padre católico, cientista e inventor brasileiro.

Teve sólida formação cultural e científica, e formou-se sacerdote em Roma. Voltando ao Brasil, passou a desenvolver sua carreira eclesiástica, sendo indicado para diversas paróquias nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, mas pouco se sabe deste aspecto de sua vida, que parece ter sido pouco expressivo.

Landell de Moura, no entanto, é mais conhecido pelo seu pioneirismo na ciência da telecomunicação, tendo desenvolvido uma série de pesquisas e experimentos que o colocam como um dos primeiros a conseguir a transmissão de som e sinais telegráficos sem fio por meio de ondas eletromagnéticas, o que daria origem ao telefone e ao rádio, senão o primeiro de todos, o que ainda é motivo de polêmicas. Vários testemunhos afirmam que ele vinha realizando testes bem sucedidos em ambas as modalidades de transmissão desde 1893 ou 1894, mas a documentação sobre esses primeiros experimentos é pobre e a data é disputada. O seu primeiro registro inconteste, documentado publicamente, é de 3 de junho de 1900, testando com sucesso aparelhos que transmitiram sem fio sons e sinais telegráficos. No Brasil ele usualmente é considerado o pioneiro em nível mundial. Nos outros países sua realização permanece largamente ignorada, embora um crescente número de fontes estrangeiras estejam aceitando sua primazia. Também deixou projetos que apontam seu pioneirismo na transmissão de imagens sem fio, sendo considerado nacionalmente um precursor da televisão e das fibras ópticas, mas também nestes campos a documentação sobrevivente não é muito clara, e internacionalmente sua contribuição nesta área específica caiu num esquecimento quase total. Demonstrou paralelamente algum interesse pela homeopatia, pela psicologia e pelo espiritismo, abordados pelo viés da ciência.

Teve muitas dificuldades técnicas e financeiras para desenvolver suas pesquisas, trabalhou a maior parte do tempo sozinho e encontrou muita resistência e incredulidade por parte de autoridades e da população, o que impediu que seu reconhecimento em vida fosse mais amplo, mas em certas esferas sua estatura científica foi devidamente apreciada e sabe-se que rejeitou oportunidades de divulgar seus inventos. Assim, a ideia popular que se formou em torno dele como um perseguido, injustiçado e sofrido cientista enfrentando um mundo insensível e obscurantista, se tem uma parte de verdade, tem também seu lado de mito romântico. A sua biografia ainda tem muitas lacunas e do seu legado científico apenas parte foi estudado, havendo muita documentação autógrafa ainda por explorar. Seja como for, no Brasil já recebeu uma série de homenagens e reconhecimentos oficiais. É cidadão honorário da cidade de São Paulo, patrono da Ciência, da Tecnologia e da Inovação do município de Porto Alegre, patrono dos radioamadores brasileiros, e em 2012, por decreto presidencial, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Primeiros experimentos científicos

Neste ínterim começava a ser conhecido pelo seu envolvimento com a ciência e iniciava suas primeiras experiências, que desde logo despertaram controvérsias e lhe deram má fama popular. Previa que seria possível a comunicação entre mundos diferentes, e divulgando essas ideias, provocou a ira de seus paroquianos, pois a doutrina da Igreja na época não admitia a possibilidade de vida fora da Terra. Por conta destas ideias revolucionárias, teve seu laboratório vandalizado.

Em 1892 teria construído o primeiro transmissor sem fio de mensagens, antes de Guglielmo Marconi fazer seus primeiros testes na Itália. Entre 1893 e 1894, segundo Fornari, seu primeiro biógrafo e seu contemporâneo, teria realizado a primeira transmissão pública de som por meio de ondas hertzianas, ocorrida entre o alto da Avenida Paulista e o Alto de Santana, cobrindo uma distância de oito quilômetros.Na ocasião ele testou um transmissor de ondas, um telégrafo sem fio e um telefone sem fio. Contudo, segundo Luiz Netto, não existe documentação sólida a respeito da data dos primeiros experimentos, o que prejudicou seu reconhecimento internacional. Testemunhos de Jayme Leal Velloso, Arthur Dias, Maria Ribeiro de Almeida e do Correio do Povo, recolhidos por Hamilton Almeida, colocam seus primeiros experimentos entre 1890 e 1896. Os experimentos se sucederiam, e em 1899 o Jornal do Commercio assinalou seu sucesso e seu pioneirismo mundial no campo da transmissão do som sem fio:

Primeira página do memorial descritivo da patente brasileira nº 3279, de 9 de março de 1901
“Nas diversas experiências executadas recentemente notou o inteligente inventor, que a zona que à mercê das vibrações do éter percorre o som articulado, se vai alargando à medida que se aproxima do receptor, de modo que, colocando-se vários desses receptores dentro do mesmo campo de recepção, alguns metros separados uns dos outros, todos eles recebem ao mesmo tempo com a mesma clareza a palavra transmitida. Deste resultado, que se saiba, não o obteve sábio algum, nem no velho nem no novo mundo, cabe ao padre Landell toda a glória da invenção. Para tal alcançar não se pense que o infatigável homem de ciência foi de um salto, há muitos anos que faz experiências e estuda metodicamente, entregando-se inteiramente à construção do triunfo que acaba de conseguir, sujeito por certo às leis da mais esquisita precisão, das quais fez nascer o seu pequeno aparelho transmissor e o seu pequeníssimo receptor”.

A primeira inequívoca demonstração pública de seus inventos ocorreu no dia 3 de junho de 1900, tendo como testemunhas o cônsul britânico em São Paulo, Percy Charles Parmenter Lupton, mais autoridades brasileiras, empresários e populares, “as quais foram coroadas de brilhante êxito”, conforme noticiou o Jornal do Commercio. A bibliografia brasileira em geral aceita este testemunho como fidedigno, e considera pelo menos plausível a hipótese de que tenha tido sucesso na transmissão de som sem fio bem antes. Alguns admitem que possa ter antecedido também as conquistas de Guglielmo Marconi na transmissão de sinais telegráficos sem fio. Em 10 de dezembro de 1900 o doutor J. Rodrigo Botet, através do jornal La Voz de España, em sua edição brasileira, reforçou o seu pioneirismo:

“Um jornal da capital federal atribuiu a invenção desse aparelho, que tem a propriedade de transmitir a voz humana a uma distância de oito dez ou 12 quilômetros sem necessidade de fios metálicos, ao engenheiro inglês Brighton. O diário a que me refiro está mal informado. Nem a invenção do sistema de transmitir a palavra a distâncias é recente nem foi um inglês o primeiro sábio que resolveu satisfatoriamente esse árduo problema, que envolveu os mais intricados princípios físico-químicos que podem oferecer-se a ciência humana. O que primeiro penetrou e descobriu os grandes segredos da telúrica etérea com glória e proveito, faz pouco mais ou menos um ano foi um brasileiro, foi o nobre sábio o padre Roberto Landell de Moura. Porque acompanhei passo a passo o estudo de seus inventos sobre telegrafia e telefonia, com e sem fios; porque fui testemunha presencial de várias experiências, todas prodigiosas; e porque tive a honra de me ocupar do sábio e de suas eminentes obras em dois artigos publicados em El Diário Español, de São Paulo, artigos que mereceram a honra de ser reproduzidos no Rio de Janeiro, no Jornal do Comércio, por tudo isto, julgo-me obrigado, agora a sair em defesa do direito de prioridade que assiste ao benemérito brasileiro o padre Roberto Landell de Moura, no que tange à transmissão da palavra falada sem necessidade de fios. […]
Fotografia do padre no jornal New York Herald, com a legenda: “Reverendo Padre Landell de Moura, inventor do aparelho de telefone sem fio”
“O mérito cresce de ponto, em se considerando que os inventores europeus e americanos dispõem de operários mecânicos inteligentíssimos e de fábricas e laboratórios onde escolher as peças que a feitura de seus mecanismos requer. O pe. Landell tem que conceber e executar ele mesmo os aparelhos, sendo a um só tempo o sábio que inventa, o engenheiro que calcula e o operário que forja e ajusta todas as peças de complicadíssimos mecanismos. […] Mas acontece que o humilde sacerdote se fecha em sua modéstia habitual em vez de dormir sobre os louros. Os poucos amigos e admiradores que tem a seu lado são capazes de compreender o sábio e avaliar o valor de seus inventos”.

Com os bons resultados obtidos, em 9 de março de 1901 Landell de Moura conseguiu obter a primeira patente brasileira para um “aparelho destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”. Diante disso, a Igreja reconheceu o seu mérito e autorizou que iniciasse em 14 de junho uma excursão científica, que passou pela Itália, França e Estados Unidos. Neste país instalou um laboratório na cidade de Nova Iorque, onde permaneceria quatro anos. Ele pretendia patentear os inventos também nos Estados Unidos, mas o Departamento de Patentes exigiu a apresentação de protótipos funcionais para conceder os registros. Como ele havia levado apenas os projetos, teve de construir três aparelhos, o que prolongou sua estadia. O jornal New York Herald publicou em 1902 uma reportagem sobre as experiências desenvolvidas na transmissão de sons sem uso de aparelhos com fio, inclusive por cientistas americanos, alemães, ingleses dentre outros, destacando o padre Landell com uma fotografia e uma entrevista.[4] Ressalta o jornal: “Por entre os cientistas, o brasileiro Padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles tem dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigações elétricas. Mas antes de Brighton e Ruhmer, o Padre Landell, após anos de experimentação, conseguiu obter uma patente brasileira para sua invenção, que ele chamou de Gouradphone”.

Certificado da patente norte-americana do telefone sem fio (Pat. nº 775 337 de 22 de novembro de 1904

Segundo Santos e Casonatto, a partir da divulgação dos seus inventos na imprensa, empresários norte-americanos ofereceram elevadas somas ao padre para que autorizasse a sua produção industrial. Porém, ele recusou esta oportunidade de ser reconhecido em ampla escala, dizendo que “os inventos já não mais me pertencem. Por mercê de Deus, sou apenas o depositário deles. Vou levá-los para minha Pátria, o Brasil, a quem compete entregá-los à humanidade”. Enquanto estava lá, contraiu pneumonia e bronquite e passou alguns meses em Cuba em busca de melhores ares, voltando a Nova Iorque em 3 de junho de 1903, e retomando seu trabalho nos protótipos. Em 1904 obteve enfim três patentes norte-americanas: número 771 917, de 11 de outubro, para um “transmissor de ondas”, e em de 22 de novembro as de números 775 337 e 775 846, para um “telefone sem fio” e para um “telégrafo sem fio”, que poderiam funcionar através da luz ou de ondas de rádio, com ou sem fio. No mesmo ano desenvolveu um projeto para transmissão de imagens à distância, cuja tecnologia o tornaria também um pioneiro da televisão, do teletipo e do controle remoto. Novamente Netto diz que a documentação é pobre sobre este trabalho, impedindo que se conheça até que ponto ele chegou realmente.

 

Texto extraido da Wikipedia

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